EROS
(2025, dir. Rachel Daisy Ellis)
Sexo, em algum momento, encara-se de forma pragmática. Não estou dizendo que nele não há espaço para o romântico, o ilógico ou o fantasioso, longe disso. Mas, como diz meu amigo Pedro Tubiana, todo mundo morre e quase todo mundo transa e se você, leitor, quiser fazer parte do segundo grupo, terá de responder algumas perguntas. E existem várias: Quando? Como? Para que? Há quem pense que não mencionei o mais importante: com quem? De todas, aquela que mais me chama atenção, é logística e fundamental: Onde?
Essa é a pergunta que Rachel Daisy Ellis encena em Eros, documentário sobre as noites de casais em motéis espalhados pelo Brasil. Após ser negligenciada por seu parceiro, sozinha no quarto de motel, Rachel decide dar início ao seu projeto de pesquisa: Achar casais que estejam dispostos a filmar suas noites em motéis para montar um longa-metragem. Esse é o filme sobre as histórias de quem escolhe a maior instituição de sexo do mundo para ser o seu “Onde?”.
Cachoeiras de pedra desaguando em banheiras, piscinas de azulejos ultrapassados, tetos solares retráteis e suítes divididas por janelas. Eros revela as arquiteturas que compõem esses espaços e, consequentemente, os desejos de seus frequentadores. Cenas de sexo intercaladas pela escolha e espera de refeições (muitas vezes produzidas pela própria cozinha do Motel) explicitam a relação divertida que os moteleiros têm com seus quartos, cuja mobília pode variar desde camas redondas e espelhos no teto até gaiolas e separadores de mãos e pernas.
E quem frequenta esses espaços? Todo o Brasil. Não é um exagero pensar que a cama utilizada pelo mais cristão-conservador dos casais, que, como dito no filme, “tem que ir para o inferno e voltar” é logo depois ocupada por dois homens que desejam fazer sexo em um lugar onde possam deitar. O motel abarca todos os desejos, contempla todos os sexos, escuta todas as confissões. Tentando fazer amor, há quem ache num motel a resposta de todas as perguntas.